COM MEDO DE MORRER.
Hernandes Pereira.
Sem alento, na porta do mocambo
Amanhece o pai, desempregado!
Olha o filho faminto escaveirado
Vê a esposa coberta de molambo;
Sai faminto, tombando – o corpo bambo
Vivo - quase sem jeito pra viver !
Se este pobre não roubar pra comer
Talvez nem escapar ele consiga:
Com os roncos da fome na barriga
Ele rouba com medo de morrer...
Com os distúrbios da fome estomacal
Sem ter mais de que faça um canja
Se procura um patrão não arranja;
O vizinho também já está mal.
Sem farinha, sem arroz, feijão ou sal
Sente a fome no bucho estremecer.
E sem ter um tostão pra receber
Vê a hora de arranjar o pão com briga.
Com os roncos da fome na barriga
Ele rouba com medo de morrer.
Não lhe atende o Santo á quem se pega
Nata escapa na sua agricultura
Não encontra a ajuda que procura
O seu crédito se acaba na bodega.
Pede a cem – um por um – o cento nega
Não consegue com fome adormecer
Tresvaria até o amanhecer
Aí rouba porque a fome obriga.
Com os roncos da fome na barriga
Ele rouba com medo de morrer.
Se ele sabe brocar, não tem pra quê
Por não ser um covarde, não se esconde
Quer partir mas não sabe para onde
Busca um rumo pra vida, mas não vê
Pede plano, mas não acha quem dê
Sente o corpo famélico si tremer
Para não ver a fome lhe vencer
Com cansaço,tontura e fadiga –
Com os roncos da fome na barriga
Ele rouba com medo de morrer.
A canção do inverno não ecoa
Pois, com medo o carão não canta mais
Depois que anunciam os funerais
As cauãs vão por onde o carão voa
O roceiro se sente mais a-toa
Do que um caçador ao se perder
Ele acaba querendo, sem querer
Sustentar a família com intriga
Com os roncos da fome na barriga
Ele rouba com medo de morrer..