OURO NA LAMA
OURO NA LAMA.H.PEREIRA
O favelado é filho
De um povo que não o ama
Como quem depois que nasce
Despenca da própria cama
Para viver como ouro
Que o tempo joga na lama
Quem vê o pobre na favela
Entre a lama e o lixo
Pode pensar que é preguiça,
Mas aquilo é um capricho
Do destino que o obriga
Viver da forma de bicho.
Ele que a sociedade
Não inclui no seu contexto
Pega corda de político
Que só lhe folga o cabresto
De quatro em quatro anos
Igual a ano bissexto.
Sem panela e sem texto
Numa favela reside
O pote não tem copeira
No quarto não tem cabide
Porque a sociedade
Tem muito mas não divide.
O favelado reside
Sob mofos e buracos
Suas panelas são latas
Seus pratos são velho cacos
Simbolizando os atos
Desses governantes fracos
Nos barracos das favelas
Sem sala e sem camarinhas
Vivem pobres prostitutas,
Inválidos e trombadinhas
Gerados por pais covardes
No ventre de mães mesquinhas.
E em antros miseráveis
Tem famintos e pagãos
Boca aberta, mãos pra rua
Fazendo a fazer apelos vãos
Numa pátria onde lobos
São chamados cidadãos.
Passa a polícia e vasculha
As cabanas dos flagelos,
Não invade os bairros ricos
Para não quebrar os elos
De traficantes de drogas
Com trombadões de castelos.
As vezes o favelado
Quer comer não tem o que
Um trabalho não consegue
Se pede não há quem dê;
Põe-se na primeira esquina
E rouba o primeiro que vê.
Publicado em vários livros por
Dideus Sales.
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