DESBAFO DE UM INDIGENTE.
Hernandes Pereira.
Vivo entre seres fuscos
Vendo a paz dos inaauditos
E ouvindo a voz dos labruscos
Em repetidos atritos
Por orgulho a massa ilustre
Não vê a cruel palustrte
Que leva-me aos últimos termos
Como um corpo que desnutre
Nas bicoradas do abutre
Devorador dos enfermos.
Escarro,gemido e tosse
Se ouve lá num recanto
São sons da morte precoce
De quem já trabalhou tanto
Num retorcido inútil
Um corpo frágil inconsútil
Cheio de chagas de gafa
Sem quem lhe dê uma mixórdia
Pedindo misericórdia
O indigente desabafa.
Vivi sempre sem ninguém
sem ter com quem me arranje
Minha morte não me vem
Ou quando vem alguém tange.
Minha humilhante inópia
Me traduz na fotocópia
Da incômoda miséria
Ingerindo amargas bagas
Que multiplicam as chagas
Da minha frágil matéria.
Nestes entulhos debruço
Esperando a morte eu tremo
Com medo, frio e soluço
De dor e ânsia eu gemo.
Nas minhas impressões raras
Minha cara é como as caras
De outros que estão assim!
E me com,parando a eles
Eu choro com pena deles
E com vergonha de mim.
Os que passam para escola
Não me prestam atenção
Que a voz de quem pede esmola
Ninguém toma por lição.
E os que passam da venda
Levando o pão da merenda
Dão-me desgosto maior
Porque peço e não me dão,
Esquecem que naquele pão
Pode ter do meu suor.
Sobre três ou quatro toros
De paus sem ter quem me zele
Manhã é gelo em meus poros
Tarde , é fogo em minha pele.
A tarde faço um esforço
Com pouca força me torço
Mas só dou dois ou três passos
Que a luz como quem si ofende
Some e a noite me estende
De novo seus negros braços.