QUERO IR A MINHA TERRA. Hernandes Pereira.
Quero ir a minha terra
Para ver se dou um jeito
Na saudade que faz guerra
Noite e dia no meu peito.
Lá de casa pouco existe
Só o vento embala triste
Os matos de ramos tortos
Porque com a morte injusta
Um lar que foi belo assusta
Depois dos seus donos mortos.
Vou ver se inda soam uivos
Dos cães sobre os alabastros
Bois brancos e poltros ruivos
Se lá inda fazem rastros
Quero ouvir se os inhambus
Lá por trás dos “mundurus”
Cantam com a mesma arrogância
E se a patativa cantar
Vai ser mesmo que escutar
A canção da minha infância.
Quero brincar no açude
Para aumentar a lembrança
Da época de mais virtude:
O meu tempo de criança.
Ouvir garaúnas negras
Ágeis como toltinegras
Nas frondes das laranjeiras
E o vento em absurdos
Passar fazendo chafurdos
Nas folhas das bananeiras.
Quero rever as cabanas
Das primitivas fazendas
E beber caldo de canas
Exprimidas nas moendas.
Ver os meninos em gritos
Brincando com os cabritos
Correndo em redor das casas
E o peru incomodado
Riscando o chão enfezado
- com as pontas finas das asas.
Sentar onde pai contava
Glórias, revoltas e queixas
E mãezinha massageava
Suas grisalhas madeixas
Quero em um olhar profundo
Fitar o pedaço do mundo
Que deixei na juventude
E dizer tremendo a chorar:
Fui por não poder ficar,
Não voltei porque não pude.